Mesmo após os lançamentos de “Independent Women”, “Bills, Bills, Bills”, “Run the World (Girls)”, “***Flawless”, “Freedom” e “Formation”, as pessoas insistem em dizer que Beyoncé só começou a “lutar” pelos negros ou “virou” feminista porque viu uma ótima oportunidade de ganhar dinheiro, como se ela só fosse alcançar um sucesso de vendas se lançasse um álbum falando sobre namoros frustrados, por exemplo.
Ocupar o lugar que ela se encontra hoje mudou a imagem de incapacidade que muitos brancos tinham em relação aos negros. Beyoncé já figurou por diversas vezes em capas de revistas consagradas como a artista mais importante ou influente no mundo.
Colocar a carreira em jogo, lançar músicas e videoclipes que denunciam a violência policial contra a comunidade negra e periférica não é para qualquer artista. É preciso estar seguro de si para enfrentar os conservadores que insistem em dizer que não há movimentos separatistas. A apresentação no Super Bowl caiu como uma verdadeira bomba na polícia estadunidense.
Promover qualquer ação que prejudique o próximo é mais fácil através do computador. Depois do recorde de três pessoas que foram no protesto contra a postura de Beyoncé no Super Bowl, os críticos de plantão se sentiram mais fortes na internet.
Beyoncé foi acusada de promover ódio e racismo, de trabalho escravo com a linha de roupas Ivy Park, de ser submissa ao marido depois de descobrir uma traição, sem contar as “brincadeirinhas” em portais de notícias, onde a acusam de manter a cantora Sia num cativeiro ou viver de processo para embranquecer a pele.
Tudo isso levando em conta que ela foi obrigada a ler nas manchetes de tabloides sensacionalistas que o casamento dela estava por um fio ou que ela precisava pentear o cabelo da filha dela, porque cabelo crespo é preciso deixar amarrado ou algo do gênero.
A luta da Beyoncé e de tantos outros artistas é muito mais que questões fúteis ou fofocas sem fundamento: é importante denunciar a situação sob as quais está submetida a comunidade negra, que sofre de racismo estrutural todos os dias devido à cor de sua pele, o que se reflete na morte de negros diariamente, não só nos Estados Unidos, mas também no Brasil, como pôde ser verificado na morte de Philando Castile, quando sua mulher transmitiu ao vivo pelo celular a morte do namorado, que levou quatro tiros numa abordagem da polícia. (TW) | aviso de gatilho
Diamond Reynolds viu o namorado agonizar do lado dela. Ela disse que eles foram parados por causa de um problema na luz traseira do carro. Nos Estados Unidos, quem é negro corre três vezes mais risco de ser morto pela polícia do que quem é branco.
Na Louisiana, um homem negro também foi morto pela polícia: Alton Sterling estava imobilizado no chão por dois policiais brancos quando um deles atirou várias vezes.
Depois de tudo isso, em uma semana, as pessoas ainda insistem em julgar os artistas, chamando-s de oportunistas ou falsos ativistas, mas não levantam do sofá para fazer com que o mundo seja tolerante e com pessoas mais solícitas.
É mais fácil julgar do que ajudar.
Nossa realidade aqui no Brasil é ainda pior. No Rio de Janeiro, por exemplo, a polícia mata três vezes mais que a americana. Segundo estudo da organização internacional de direitos humanos, Human Rights Watch, no ano passado, policiais do Rio mataram 645 pessoas, um quinto do total de mortes no estado. O levantamento classificou a polícia do Rio como uma das mais violentas do mundo.
A pergunta que fica é: cadê nossos artistas lutando por um país melhor? Será que eles não têm tamanha visibilidade como a Beyoncé para protestar? Será que eles dependem de uma elite branca para trabalhar, fazer shows, se sustentarem através de uma gravadora? Está na hora da gente colocar a cabeça para pensar e parar de julgar o próximo que tenta te oferecer um mundo melhor. Vamos à luta, pois sozinho ninguém alcança a vitória.